Aprendendo a Reescrever a Vida


Acerca de dois anos atrás, passei por momentos aflitivos: nesta época, para não dar vazão a pensamentos ruins...fazia fuxicos, enchi sacolas e sacolas de rodelinhas e não conseguia fazer nada com elas.

Que vida sem propósito!

Mesmo assim, decidi: isto aqui dá um centro de mesa. E foi feito, mas... Não conseguia nem olhar para ele, guardei novamente na sacola. Estava triste, amargurada, sem direção e, foi quando alguém me convidou para fazer parte do grupo de Mulheres  (Grupo Terapêutico), trabalho novo no nosso meio!

Lá foram abordados temas em profundidade como: sentimentos de rejeição, ressentimentos, culpas, medos. Tudo isso de forma clara e objetiva, mostrando o quanto nossas mentes nos leva a prisões emocionais, e como deixamos esculpir em nossos corações ódio, mágoa, dor, inveja, loucura e depressão que paralisam e trazem a morte espiritual, somatizando enfermidades no corpo.

O que eu aprendi?

Aprendi a importância do perdão, e o verdadeiro significado do amor ao próximo.
Aprendi a me abrir para deixar a luz entrar e invadir a minha vida.
Aprendi estas coisas não com a mente, mas com o espírito e este sentimento permanece até hoje e é notório seu efeito, em todas as áreas da minha vida.

Lembra dos fuxicos? Continuavam lá na sacola...

Iniciou-se a segunda estapa dos encontros, com uma nova proposta:
Usar a arte no processo de cura. O que é isso? Terapêutico...bobagem!

Fui ao primeiro encontro e, lá estavam as Dorcas, animadas...poucas...mas, sonhadoras.
Adivinha qual foi a primeira proposta? Fazer roupas e acessórios: costurar, bordar, cortar, juntar, separar, alinhavar, etc.

OPA!chegou a hora... Vou me livrar dos fuxicos, a minha parte já está pronta.

Próximo encontro: na primeira oportunidade pedi a palavra: - Abri a sacola, puxei os fuxicos e como num desabafo despejei-os na mesa e falei: "isto chama-se desespero". Houve um silêncio...e tem mais, continuei, espero nunca mais revê-los.

E as outras... como estavam se saindo?

O desafio de nos tornarmos pessoas inteiras, completas, equilibradas, conseguiu tocar fundo o nosso coração, ao ver cair as escamas dos olhos, descobrir relacionamentos de décadas sem aliança, descortinar a dor, a vergonha, falar, chorar, sorrir...Tudo isso ante o olhar atônito da nossa mascotinha, que aliás, é um exemplo de como é bom começar cedo a cura da alma.

Próximo encontro: Após lágrimas lavarem a alma, vimos os retalhos espalhados no chão. Olhando, era difícil imaginá-los inteiros, sobrepostos, transformados em saias, blusas, vestidos e bolsas. Era como a nossa alma: segmentada em tantos pedaços, separada pela falta de visão, pelos sentimentos de morte, pela dureza de coração, pelas atitudes de orgulho, rebeldia, medo, insegurança, falta de perdão.

Os retalhos? Foram se transformando em lindas peças de vestuário, enriquecidas com criativos bordados, e acrescentadas por bijuterias.

Fomos ministradas sobre "fé e obras". Ter fé, acreditar! Pensei... é isso daí. É aquela história de dar esmolas aos pobres...como dizem "a fé sem obras é morta".

Não é nada disso! Eu aprendi um sentido novo do "fazer".

Aprendi tomar atitude em fé ante situações da vida, transformando-as para melhor.
Aprendi a renovar a mente, a gerenciar meus pensamentos, controlar meus sentimentos, modificando assim meu comportamento, na busca de uma melhor qualidade de vida.
Aprendi neste dia, que não preciso ser uma exímia costureira, cantar muito bem, ou fazer este ou aquele curso para acolher uma pessoa.
Aprendi que é preciso apenas, naquele lugar, naquela hora, estar junto, conversar, sorrir, ou emprestar minhas mãos, ou minha voz, ou meus ouvidos. Não pelo compromisso, mas para estar junto fazendo o que puder fazer.
Aprendi que é importante fazer todas as coisas com propósito, com alegria.

É simples não é? Mas eu não discernia...

Aprendi que tudo isto funciona à partir do meu querer, que não valerá nada se não for concretizado por amor.

Enquanto isso... os fuxicos voltaram às minhas mãos para serem moldados em peças que fariam parte do desfile.

Que propósito!

O verdadeito objetivo deste trabalho, que aparentemente se resumiu,  em mais um desfile de modas, ao sabor de um delicioso chá das cinco, consiste num processo de restauração de pessoas.


Assim como o escolher dos tecidos, o definir dos modelos, moldar, alinhavar, experimentar, muitas vezes, fazer o acabamento e, finalmente dar a peça como pronta, é o contexto físico, emocional, espiritual das mulheres, que foi cuidadosamente tratado durante o Projeto, à luz da Palavra de Deus.

No entanto, como toda roupa pronta ao ser experimentada por alguém precisa de ajustes, daqui para frente estas mulheres estarão olhando suas vidas com condições de saber em que área precisarão fazer reparos, apertar ou soltar, dar um tratamento ou experimentar outras estratégias, deixando o que não serve, o que passou, realmente para trás.


Alegria, paz, perdão, ternura, disposição, desejo de realizar são alguns dos dons resgatados em nossas vidas.

(Isto é fazer arteterapia à luz da Palavra de Deus)

E o talento enterrado? Surpresa! NÃO É O FUXICO.

Aquilo que eu tinha como uma habilidade normal em minha vida,  e fazia descompromissadamente, descobri que é um dom de Deus, derramado sobre mim, e que me dá prazer em fazer: É ESCREVER.

E hoje, escrevo com propósito, REESCREVENDO A VIDA!

(Esta crônica é um depoimento de uma integrante do Grupo Terapêutico realizado nas Dorcas-Jardins)
                                                                                      
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